quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Reforma ortográfica

O tempo de vírgulas
já passou.

As exclamações
acabaram no
tempo partido
de Drummond.

O travessão não
existe mais.
Reticências é coisa
de era um vez.

Até a interrogação
já partiu pra outra.

A pontuação, desiludida,
entregou os pontos.

O homem chegará,
breve,
num ponto

final

.

6 comentários:

Maria Joana disse...

é... depois fala que não é poeta.

Alice Agnelli disse...

fiquei sem palavras.
só com pontos de exclamações na cabeça.

Alice Agnelli disse...

corrijo: é pontos de exclamação, né?!

Guima disse...

massa

Felipe Lobo disse...

Impressionante como uma simples reforma ortográfica pode ser transformada em poesia. Parabéns!

Unknown disse...

Poeta,
Faria uma digressão insuportavelmente melosa desse poema epifânico, mas tudo foi dito menos meladamente antes de mim (assim é a Vida: além da reforma ortográfica, é necessário nos precavermos das frases redundantes e meladas). Digo apenas que você não só tem realmente a habilidade de transformar chumbo em ouro (isso é um belo talento, só que muitos conseguem também o fazer), mas igualmente é capaz de sobrepor uma metáfora sobre a outra, fazendo pontes surpreendentemente inesperadas entre realidades materialmente inconciliáveis, o que é sensacional (para dizer o mínimo). Não bastasse, isso, com um só golpe, na sua frase derradeira, você demole o castelo de metáforas que há pouco criara (um procedimento, aliás, muito recorrente na sua criação poética). Felipe, caríssimo animal poético, receio que você é realmente um Artista.