quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Saudade

Feijoada,
chute de trivela,
piscada de zap,
chororô escondido,
sorriso no escanteio do rosto.
Safadezas brasileirando pelos cantinhos da terra-mãe.

Maior que o capoeirão-rão-rão lá de cima,
gol do Pelé do meio de campo que quase foi,
bunda morena na propaganda de cerveja:
Brasileiro sente orgulho mesmo duma palavra
que já derramou mais água que as de Iguaçu
e o Amazonas, Velho Chico e o da Prata.

E o povo faz tempo já decidiu
que ordem e progresso é o escambau.
No meio da colorida bandeira nacional,
Saudade!

Mas essa palavra macunaímica
também tem seu lado safado:

Rosa ensina
que toda Saudade é uma espécie de velhice,
flertando com o próprio esquecimento.
Assim, nossa própria natureza nos proíbe
de sentir nosso próprio sentimento.

Uma palavra sem futuro é confortável.
Não dá trabalho.

Esqueça.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Santidade

O livro arrogante da escola ensina
que as coisas são assim mesmo
e que Santos Dumont inventou o avião
e voou pela primeira vez no céu do Brasil.

Teimoso, é outro meu inventor:
Santo Drummond inventou meu avião
ricocheteando no ar prosas e versos.
Nunca mais fiz as pazes com o chão.


Voa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Silêncio

O Silêncio deve encobrir
solos de piano
cantigas pra dormir
quadros surrealistas.
Passeios de bicicleta e
abraços que não dão certo.

O Silêncio deve encobrir
filmes do cinema
e programas da televisão
e coceiras no fundo do ouvido.
Almoços bem comidos,
olhos mágicos da porta de visitas,
ideias repentinas,
mexericas geladas,
fogos de artifício.

O Silêncio deve encobrir
o preto e o branco
a avant-guarde paulistana
o corvo no umbral
a música como um todo
os sonhos de agora
os quatro cavaleiros do apocalipse.

Qualquer pensamento se ajoelha
diante do silêncio,
fotografia do infinito.

Cala.

Sangue

Termômetro natural da vida,
aparece discreto e majestoso,
herói surgido da sombra.

Choca, esquenta, impressiona.
Lembra dele mesmo,
de nós mesmos, de todos os outros,
energia pura e suja
dos braços do mundo.

Somos todos contradição enclausurada.

Chuva de verão púrpura,
corre saúva nos túneis de barro e pecado,
escapa brilhorgulhoso,
armadurece sóbrio,

Sangra.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Meu coração é uma alcachofra

e você que pense numa analogia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Paz, muita paz

Estar em paz é acreditar no futuro.