terça-feira, 19 de maio de 2009

Dinossauro

O pão mata mais a fome do padeiro do que do cliente;
A esmola agrada mais o
rico do que o mendigo;
O gozo do outro dentro de nós é nosso.

O sono dos bem-afortunados
é velado pelos seus dependentes.

Seus escravos.

Flores

Flores são pequenas bucetinhas
que damos para quem gostamos.

Uma buceta rosada para nossas mães num almoço de Maio.
Um buquê de bucetas para a vovó em seu aniversário.
Um vasinho solene de bucetas coloridas no túmulo querido.

E de vez em quando um mimo
para as meninas que queremos.

Deixe as flores onde estão.
Deixe as abelhas,
voyeurs do mundo vegetal,
se esbaldarem no sêmen,
trazerem o pólen,
e fazerem,
fre-ne-ti-ca-men-te,
o sexo.

E nessa orgia de campos floridos
e olores eróticos, descobrimos
que Sade estava
-quase-
certo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

In Memoriam

A lembrança escraviza.
A lembrança esvazia.
A lembrança assassina
a lembrança que existia.

Olhar pra trás dá torcicolo.

Meus pensamentos, meus sentimentos,
meus e maus momentos;
guardo todos muitíssimo bem,
livres, na minha amnésia.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Aevum Vita

Que interessa as noites escuras?
Se amas a sombra, amas a morte.
Pensa que as estrelas são puras?

Não há magia em corpos
Que podem ter morrido há eras
que estão mais longe que o infinito.

Se queres molhar os olhos
e alimentar os sonhos,
presta atenção ao dia:
O sol, as nuvens,
A Vida.

Hedo

O cálice de Baco,
a flauta de Pan,
o sexo de Vênus.

O resto é sombra.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Aranha

Junto comigo
mora uma aranha
dentro do meu chapéu.

(chapéu de tweed comprado
na rua do seminário)

Sempre que posso,
pego esses mosquitinhos,
que de tão miúdos
quase não existem.

Sua pequenez me dá
o direito de matá-los.
(Assim age Deus com os homens)

São um banquete para minha amiga.

De vez em quando,
ela escorre uma teia até
o meu ouvido,
tomando cuidado para não se emaranhar
nos meus cabelos emaranhados.
(Meus cabelos morrem de ciúmes)

E no meu ouvido,
me conta histórias divertidas
e piadas aracnídeas
que não entendo.

E às vezes versos de oito patas
como esse daqui:

Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
por nós, quer-nos, oprime-nos.*