quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Drummond

Drummond é nosso poeta
de tempo de guerra:

Sua pena
é tapa na cara;
soco na boca do bucho;
boi bravo;
bomba.

Se tratando de
poesia,
minha grande responsabilidade
é, com gosto,
tomar muita porrada.

Enquanto isso,
o tempo de guerra
finge que dorme.

Um comentário:

Unknown disse...

Caro,
“(...)soco na boca do bucho;
boi bravo;
bomba.”
Isso é poesia bruta, poesia boa, poesia que nos esvazia, que fere fundo e cura tudo. Na noite em que você escreveu tais palavras, uma inspiradíssima deusa trágica assombrava teus versos e isso significou um breve momento de transcendência. Um dos elementos cruciais da poesia, creio, é a forma: quando a arte poética nasceu, ela era, antes de mais nada, um ritmo diferenciado de narrativa. A forma foi, muito mais tarde, preenchida pelo conteúdo (tenho um pouco de pena dos poetas que tentam fazer o caminho inverso: partirem de uma idéia para depois provê-la de uma forma). Arte, para mim, não é a idéia em si, mas, sim, um movimento pelo qual a mente é esvaziada de seus pensamentos pré-concebidos. Há muitos, muitos momentos, aqui e alhures, em que sua poesia move e comove.