domingo, 13 de dezembro de 2009

Sol

Na praça da cidade, dois velhos
que nunca aprenderam xadrez
que nunca gostaram de damas
e que cansaram dos dominós
descobrem outro passatempo.

O primeiro, dos tempos da boêmia,
pulava e cantava, das festas alegria!
A conta das namoradas já não fazia,
até já tinha lutado pela democracia
e sido jogador de futebol.
Era o rei do pôr-do-Sol.

O segundo era pescador de respeito
fã duma pinga e farofa, bom sujeito.
Acordava de madrugada satisfeito
com a latinha de cerveja no peito
isca, vareta de pescar e anzol.
Era o rei do nascer-do-Sol.

E como teimosia vem com a idade,
levando jeito de não haver empate
estava assim declarado o combate.
Os dois decidiram por unanimidade
provar um ao outro com toda a certeza
o momento do dia de maior beleza.

O boêmio falava com certa razão
do céu todo em laranja-explosão
sobre vermelhos de sangue e paixão
e sobre a noite prometendo ilusão.
Sim, o pôr-do-sol era o mais belo de fato
Por tudo de concreto e tudo de abstrato.

Pois pro outro mesmo era na madrugada
em que resplandece a mais bela virada,
de azul frio e rósea esperança recheada:
da noite pro dia, força d'aurora dourada.
Além, por rara vale mais a matinal chama
o belo mais belo para os que saem da cama.

E o vento passou e o sol nasceu e subiu
e o tempo ventou e o sol desceu e sumiu
e nenhum dos anacrônicos reis viu
A nuvem cambalhotando infantil,
estrelas brigando guerras do passado,
o mundo inteiro passando disfarçado.

3 comentários:

Immc disse...

Adorei o poema :D esta lindo. E PARABENS por teres ganho o concurso.
Desculpa/desculpe :s a invação

Verânia Aguiar disse...

Adorei! muitos parebens! passe no meu e deixe opiniões :D

NO MUNDO DA LU(A) disse...

Lindo!
Você escreve muito bem.
bjos.