quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Saudade

Feijoada,
chute de trivela,
piscada de zap,
chororô escondido,
sorriso no escanteio do rosto.
Safadezas brasileirando pelos cantinhos da terra-mãe.

Maior que o capoeirão-rão-rão lá de cima,
gol do Pelé do meio de campo que quase foi,
bunda morena na propaganda de cerveja:
Brasileiro sente orgulho mesmo duma palavra
que já derramou mais água que as de Iguaçu
e o Amazonas, Velho Chico e o da Prata.

E o povo faz tempo já decidiu
que ordem e progresso é o escambau.
No meio da colorida bandeira nacional,
Saudade!

Mas essa palavra macunaímica
também tem seu lado safado:

Rosa ensina
que toda Saudade é uma espécie de velhice,
flertando com o próprio esquecimento.
Assim, nossa própria natureza nos proíbe
de sentir nosso próprio sentimento.

Uma palavra sem futuro é confortável.
Não dá trabalho.

Esqueça.

3 comentários:

Hugo Neto disse...

Fontes, animal poético,

Talvez tenha sido porque minha imaginação também se aderiu à primeira imagem da poesia quando você a leu ao telefone, mas para mim, ela termina na palavra "saudade". Creio que tantas coisas terminam, aliás, justamente ali...

Fontes disse...

Também não gostei do final, rimas desnecessárias e vazias. Vou dar uns tapas nesse poema ainda.

Renata disse...

"Rosa ensina que toda Saudade é uma espécie de velhice, flertando com o próprio esquecimento."

uau, fontes. Uau.
Lindo mesmo.