terça-feira, 16 de dezembro de 2008

para José

Zé. Pateta, pirata, poeta. Pode pedir penico, pede poesia. Pensa e aprende, Zé:

Tudo nessa vida entorta
e você se entorta por tudo
Nessa porra dessa vida torta.
Entorta e se vira e tenta e se fode todo.

Zé. Tonto, tosco, troco. Tenta, tonto, torce, tomba. Entorta, Zé.

Coração é mole e tudo é frágil:
Ele enfraquece, tudo esfarela;
numa fraqueza que foi fácil
Fica a ferida fodida pro infinito.

Zé. Fraco, fresco, frágil. Enfrenta, forja, força, enforca. Se esforça mais, Zé.

Vê? Vale a pena viver
se você mesmo se esvai,
violência que ninguém vê?
Vê? De quem é a vitória?

Zé. Vil, volátil, vivo? Vem, vê e sê vencido. Não fica cego, Zé.

Um erro que é coisa de rato
corrói tudo que restava.
Raiva! Rente rastejo
e relembro seu rosto.

Zé. Não se arrisca. Não erra mais, Zé.

Conto agora a culpa:
Culpo minha cara,
canto meu já carcomido
coração e me culpo.

Zé. Escute cá um conselho: não erra nunca, Zé.

Mas a morte já mandada,
irmã macabra e medonha
mente e marca minha alma.
Eu mudei! Mas muda nada.

Zé. Ama menos e morre menos, a cada amor morrido.

Zé. Não escuta os bobos que dizem
que mais vale perder um amor
do que nunca ter amado.
Se desconfia, experimenta, Zé.

4 comentários:

Felipe Lobo disse...

Parece que o mundo desmorona quando alguém tira do nosso castelo uma única peça. Ele parece cair inteiro, sendo destruído, totalmente no chão.
Mas aí, com o castelo no chão, percebemos que é apenas um castelo. Que podemos reconstruí-lo como quisermos. Que foi o fim de um castelo que tinha problema (que nunca lembramos na nossa terrível nostalgia).... Que tinha alguma goteiras, que precisava ser pintado, que umas rachadura nos incomodavam, que faltava cortina... Tudo que vc ia deixando para depois, quando tivesse tempo, quando fosse realmente necessário...
Bom, agora é. Hora de refazer, colocar tudo em ordem. À força, é fato, mas é hora de reparar o que já era para ser reparado. Inclusive o coração.

Abraço, Fontes

Clara disse...

"Vê? Vale a pena viver
se você mesmo se esvai,
violência que ninguém vê?
Vê? De quem é a vitória?"

adorei isso :)

Anônimo disse...

E não vai reconstruir? Abraços

Unknown disse...

Poeta,
Formas plenas de imagens, composições sonoras absurdamente rítmicas, movimento de palavras e imagens! Caro, esse poema é uma das jóias da coroa: estou profundamente tocado por ele. Não conheço o Zé, mas, atravessando a ponte da sua Arte (bendita seja), sei quem é ele, reconheço o Zé em mim, reconheço-o em muitos homens que vêm e vão pela estrada da minha vida, reconheço-o em todos nós. Zé, essa construção real da sua mente repleta de abismos insondáveis, de sua imaginação fértil em cataclismos, deixa de ser Zé e vira, Hugo, entre outros. Há certamente homens, há Felipes, há Zés e, sim, sem dúvida, há Hugos que precisam ver a arquitetura do mundo ao chão para poderem respirar melhor. Obrigado por me recordar disso (há lições que vivemos esquecendo).